Estudo com saguis abre novas portas para pesquisas sobre depressão em seres humanos

As doenças neuropsiquiátricas são as patologias não contagiosas mais conhecidas no mundo e serão, até 2020, a principal causa de incapacidade humana, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Como os fatores desencadeadores desse problema são muito diversificados, apenas um terço dos pacientes apresenta alguma resposta aos medicamentos receitados.

A ciência tem trabalhado para achar respostas mais urgentes, porém ainda existem muitas limitações que dificultam a acurácia dos resultados observados. No entanto, um recente estudo do Instituto do Cérebro (ICe), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), abre uma nova janela em favor das pesquisas nesta área.

O estudo, desenvolvido pelos pesquisadores Viviane Brito Nogueira, Danilo Imparato e Sandro Souza, sob orientação da neurocientista Bernardete Sousa, chefe do Laboratório de Endocrinologia Comportamental do ICe, investigou a expressão gênica no córtex frontal de seres humanos e saguis (Callithrix jacchus) e constatou que a semelhança entre as duas espécies também aparece em nível molecular.

A conclusão publicada na Brain and Behavior trouxe duas descobertas importantes para a ciência: a existência de uma expressão semelhante em termos de genes, vinculada a determinadas doenças neuropsiquiátricas, e um viés análogo na expressão de genes em machos e fêmeas de ambas as espécies. Estas descobertas confirmam o sagui como um modelo importante para estudar as doenças neuropsiquiátricas, já que os seres humanos não podem ser manipulados a nível laboratorial e em teste de drogas.

Por compartilhar 45,01% dos genes enviesados por sexo com os humanos no córtex frontal, o sagui já vem sendo utilizado como modelo animal nas neurociências há algum tempo. Porém, a nível molecular e considerando a diferença entre os sexos, o novo estudo é uma grande novidade no mundo.

Segundo Viviane Nogueira, estudo é uma grande novidade no mundo – Foto: José de Paiva Rebouças

Conforme a pesquisa, a diferenciação no cérebro de machos e fêmeas não reflete simplesmente na distinção dos hormônios gonadais (esteroides sexuais), mas também dos mecanismos de sinalização sináptica. Isso pode ajudar a explicar melhor por que homens são mais propensos a desenvolver autismo e esquizofrenia, enquanto as mulheres estão mais susceptíveis a ansiedade e depressão.

Testes anteriores

A UFRN é referência nas pesquisas com sagui porque já o utiliza em estudos sobre doenças neuropsiquiátricas como modelo importante na adolescência. No mundo, os animais mais comuns nas pesquisas em neurociências são ratos e camundongos.

“Os primatas, por terem características mais próximas dos seres humanos, têm um poder de validação maior em relação a uma transposição de dados, com os cuidados que se deve ter, em relação aos seres humanos”, contextualiza Bernardete Sousa.

Estudo é coordenado pela neurocientista Bernardete Sousa – Foto: Anastácia Vaz

Testes anteriores de indução de quadros de depressão realizados em outros estudos da UFRN mostraram que estes animais respondem aos sintomas com características semelhantes aos humanos. Eles apresentam alteração no peso corporal, anedonia e diminuição de mobilidade, todos os fatores que apontam para um quadro que lembra a depressão.

Banco de dados molecular

Uma importante ferramenta em bioinformática criada durante esse novo estudo reúne um banco de dados molecular de saguis. O CajaDB fornece uma interface intuitiva para visualizar e explorar dados de genômica, transcriptômica e de splicing alternativo desse modelo animal.

O aplicativo não apenas permite que o usuário navegue pelos dados, mas também oferece suporte a análises biológicas, como análise de enriquecimento funcional (ontologia) e rede proteína-proteína.

O objetivo é que esses recursos centralizados forneçam benefícios aos pesquisadores no tratamento de questões científicas. O aplicativo está disponível aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *