ICe-UFRN tem duas pesquisas selecionadas pelo Instituto Serrapilheira

Os cientistas Tarciso Velho e Diego Laplagne, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN), tiveram suas pesquisas aprovadas na seleção do Instituto Serrapilheira, primeira instituição privada dedicada exclusivamente ao fomento científico no Brasil.

Cada um receberá um subsídio de até R$ 100 mil para aprofundar suas pesquisas durante 12 meses. Após este prazo, voltam a ser reavaliados pelo Conselho Científico do Serrapilheira e, sendo novamente selecionados, recebem até R$ 1 milhão para desenvolver seus projetos por um período de três anos.

Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do ICe-UFRN, o resultado mostra o comprometimento do Instituto com a ciência. “As premiações implicam grande prestígio e serão cruciais para que os professores selecionados possam desenvolver suas pesquisas plenamente, junto com suas equipes. Elas também reafirmam, de forma bastante concreta, o espaço de excelência científica que vem sendo construído no ICe”, reforça.

Tarciso Velho destaca que a iniciativa do Instituto Serrapilheira oferece uma oportunidade única para jovens pesquisadores como ele. “Este tipo de iniciativa é muito importante considerando a falta de uma política nacional de apoio a novos pesquisados nesta época que estamos passando, onde vemos as nossas agências nacionais de fomento sofrendo com reduções massivas de orçamento”, reclamou.

Ele acrescenta ainda que este tipo de financiamento vai possibilitar a implementação de projetos cientificamente inovadores e de alto risco, o que dificilmente seria possível considerando as condições atuais.

Segundo Diego Laplagne, esta seleção é como um oásis no deserto, considerando o atual contexto político tão negativo para o Brasil e seu desenvolvimento científico.

Ter seu projeto selecionado pelo Instituto Serrapilheira, entre tantas propostas, é, na visão de Diego, uma grande motivação para continuar seu trabalho. “Para o Brasil é uma grande contribuição o fato de a chamada apoiar projetos científicos ousados, pois esses não são necessariamente favorecidos nos editais tradicionais, embora tenham o potencial de gerar descobertas de alto impacto”, esclarece.

Concorrência

Ao todo, 1.955 propostas foram encaminhadas para a seleção do Instituto Serrapilheira. Destas, somente 65 foram selecionadas nas sete categorias disponíveis. Participaram da chamada pesquisadores de 331 instituições diferentes, espalhadas por 26 unidades federativas do país. Desse total, apenas 12 estados foram contemplados.

O RN lidera em nível de Nordeste com maior número de projetos selecionados. Foram cinco no total, todos da UFRN. O Estado ficou ainda em quarto lugar em nível nacional, atrás de São Paulo (20), Rio de Janeiro (15) e Minas Gerais (7). Sul e Sudeste foram os que mais submeteram trabalhos, com 1.456 inscritos, dos quais 51 receberão o apoio.

Da região Nordeste, 497 jovens pesquisadores enviaram projetos, sendo escolhidos 13 em cinco estados. Bahia foi quem mais submeteu, com 83 propostas, embora apenas duas tenham sido aceitas. O Ceará que participou com 41, aparece em segundo lugar com três aceites.

Gagueira e autismo

A seleção no Serrapilheira possibilitará Tarciso Velho a investir no desenvolvimento de um sistema modular de animais transgênicos para a manipulação de genes endógenos em pássaros canoros, o principal modelo animal para o estudo do aprendizado vocal. Isso vai permitir investigar como mutações genéticas influenciam a formação e o funcionamento de circuitos neuronais e como isto leva a alterações de comportamento.

Seu projeto tem por objetivo principal criar uma série modular de animais transgênicos para estudar como mutações genéticas, que naturalmente ocorrem em humanos, podem gerar problemas como a gagueira persistente e o autismo.

Para isso, será desenvolvido, pela primeira vez, um sistema modular, baseado em uma enzima capaz de editar DNA, chamada Cas9, para a modificação de genes endógenos de aves canoras. “Este sistema vai nos permitir investigar se variantes de genes associados ao autismo e a gagueira persistente podem modificar a forma e a função dos circuitos neurais associados ao aprendizado vocal”, explica.

Como o sistema é modular, os diferentes animais podem ser combinados e usados para investigar várias outras questões de interesse, não somente no laboratório do pesquisador, mas por outros investigadores.

“A ideia é criar elementos (linhagens genéticas) que poderão ser utilizados para dissecar circuitos neurais envolvidos na aprendizagem vocal e ajudar a desvendar as bases genéticas desta característica evolutiva única que é linguagem humana”, completa Tarciso Velho.

Atividade cerebral e comportamento

A proposta do neurocientista Diego Laplagne é aproveitar a atual revolução em inteligência artificial para programar computadores com objetivo de descobrir como a atividade cerebral gera o comportamento.

Seu laboratório tem ampla experiência em monitorar detalhadamente o comportamento livre de ratos, combinando gravações de vídeo e som com medições da respiração, movimentos e postura dos animais. Com isso, ele propõe adicionar medições em grande escala da atividade cerebral e desenvolver ferramentas de inteligência artificial para descobrir relações dentro deste enorme conjunto de dados.

“Desenvolver nosso projeto levará a um crescimento no conhecimento de inteligência artificial na UFRN, a qual pode ser aplicada para resolver inúmeros desafios dentro e fora da universidade”, afirma.

Laplagne explica ainda que sua pesquisa permite avançar no uso destes métodos na interpretação da atividade cerebral, o que pode contribuir em projetos aplicados. É o caso do desenvolvimento de próteses inteligentes para pessoas com limitações de movimento ou de outras interfaces entre o cérebro e o mundo externo.

Veja resultado completo da seleção do Instituto Serra Pilheira:

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