Doutora pelo ICe tem artigo publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience

Foi publicado, na edição especial Women in Motor Neuroscience, do periódico científico Frontiers in Human Neuroscience, o artigo “Effect of the Menstrual Cycle on Electroencephalogram Alpha and Beta Bands During Motor Imagery and Action Observation” (“Efeitos do ciclo menstrual nas bandas alfa e beta do eletroencefalograma durante imagética motora e observação da ação”, em tradução livre). O trabalho é assinado pela recém doutora pelo Instituto do Cérebro, Rafaela Faustino, em co-autoria com Thatiane Mendes, Luana Lima, Daniel Brandão e os professores do ICe Bernardete Sousa e Diego Laplagne. 

Rafaela investigou em seu doutorado o efeito do ciclo menstrual sobre o planejamento e a execução do movimento. Este trabalho trata especificamente do efeito do ciclo menstrual sobre duas práticas mentais que ativam as regiões do cérebro responsáveis pelo movimento: a imagética motora (processo em que o indivíduo imagina o movimento sem realizá-lo); e a observação da ação (quando o indivíduo observa com atenção outro executando um movimento ). “De maneira geral, elas são conhecidas como simulações mentais e servem para estudar a cognição motora, como também têm seu uso clínico para reabilitação de pacientes com doenças neurológicas, como AVC e  Doença de Parkinson e, ainda, para a melhora do desempenho motor em atletas”, explicou.

O ciclo menstrual é composto por três fases: menstrual ou folicular precoce (período da menstruação); folicular tardia ou ovulatória (na qual ocorre a liberação do óvulo do ovário); e lútea (que se segue à ovulação). Em cada uma delas, são produzidos e liberados os hormônios sexuais femininos pelos ovários em diferentes níveis. “Em nossa pesquisa verificamos, por meio da eletroencefalografia (EEG), que na fase folicular tardia do ciclo menstrual (fase com maior nível do hormônio sexual feminino estradiol), a atividade das regiões corticais pré-frontal e central (motora) é maior do que nas fases luteal (altos níveis de estradiol e progesterona) e menstrual (baixos níveis de estradiol e progesterona) durante a prática de imagética motora, sugerindo o efeito positivo do estradiol sobre o planejamento do movimento. Encontramos ainda uma correlação negativa entre a atividade elétrica cortical (em várias regiões corticais) e os níveis séricos de estradiol durante a observação da ação. A observação da ação está relacionada à ativação dos neurônios espelhos, que são responsáveis pela imitação das ações observadas no dia-a-dia, e com a aprendizagem de novas habilidades”, relatou Rafaela. 

O trabalho foi realizado sob orientação da professora Bernardete Sousa e é uma parceria entre o Laboratório de Endocrinologia Comportamental e o Laboratório de Eletroencefalografia, ambos do ICe. “Estes resultados foram demonstrados pela primeira vez com o uso da eletroencefalografia e o ineditismo dessas observações abre novas perspectivas para criação de protocolos para neurorreabilitação feminina, de modo a demonstrar que as prescrições de exercícios possam trazer melhores resultados quando realizados, principalmente, durante a fase folicular do ciclo menstrual”, acrescentou a professora.

Os achados deste trabalho foram tão bem recebidos, que o levaram a ser apresentado nesta quinta (12) no Research in Imagery and Observation (RIO) Online Conference 2022, após o convite de um dos revisores da publicação do Reino Unido.