Projeto de capoeira incentiva plantação de cabaça

Confeccionar seu próprio berimbau é uma das primeiras tarefas dos estudantes envolvidos no projeto de extensão Capoeira do Brasil, vinculado ao Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe/UFRN) com apoio de outras unidades. Para isso, eles precisam lidar com um fruto muito tradicional na história do Nordeste, a cabaça (Lagenaria e Cucurbita), também chamadas de porongo ou biriba, que, como todo fruto, tem a possibilidade de ser cultivada.

No primeiro encontro sobre a fabricação do instrumento símbolo da capoeira, algumas cabaças levadas pelos estudantes estavam intactas e cheias de sementes. A dúvida do que fazer com elas foi solucionada quando o professor Patrick Coquerel, do Departamento de Educação Física (DEF/UFRN), sugeriu um plantio para se produzir novas porongas e vergas, baseado no Dossiê da Capoeira do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Grupo Capoeira do Brasil

A proposta foi colocada em prática em parceria com os departamentos de Saúde Coletiva (DSC) e Nutrição (Dnut) da UFRN, dentro do Laboratório Horta Comunitária Nutrir. As primeiras germinações foram acompanhadas entre os meses de agosto e novembro de 2019, mas as mudas que vingaram precisavam de outro destino, considerando que a cabaceira (Crescentia cujete) tem ramos longos e pode alcançar até 12 metros de altura.

Após várias análises do grupo, foram apontadas três soluções. A primeira foi que uma das três partes das mudas seria distribuída aos participantes do Dia da Consciência Negra e Jogos Afros, ação integrada de extensão planejada e realizada por estudantes dos componentes curriculares Capoeira e Metodologia do Jogo durante o segundo semestre de 2019. Esse evento aconteceu no dia 20 de novembro do ano passado, em alusão a data simbólica da morte de Zumbi dos Palmares, com a presença massiva da comunidade externa de capoeiristas da grande Natal.

Outras mudas foram doadas para a Escola de Educação Básica Estadual Zila Mamede, localizada na Zona Norte de Natal. Nela, realizou-se uma parte da ação de extensão do evento Dia da Consciência Negra e Jogos Afros. Neste local, houve, inclusive, uma parceria com estudantes do curso de História da UFRN que atuam com estudos sobre memória e patrimônio histórico, configurando uma ação interdisciplinar e transdisciplinar em torno da capoeira.

Horto da UFRN

A terceira parte das mudas e sementes foram cultivadas junto ao Horto da UFRN, da Superintendência de Infraestrutura (Sinfra/UFRN), sob os cuidados do biólogo Bruno Rafael Morais de Macêdo. Os processos de semeadura, germinação, cuidado e plantio se deram a partir de dezembro de 2019 e a primeira colheita de porongos ocorreu no mês de agosto deste ano.

O servidor Ivis Pereira, da Sinfra, que ajudou no trabalho, disse estar feliz com o resultado da experiência com a planta e seus frutos. Ele demonstrou surpresa ao saber que cabaça ainda verde pode ser comestível e usada no preparo de saladas ricas em fibras.

Ivis Pereira, servidor da Superintendência de Infraestrutura

A decisão do professor Coquerel com seus sete estudantes de capoeira, Leonardo Cabral Afonso Ferreira, Kerson Felipe Figueiredo Silva, Ronaldo Teodosio de Oliveira Alves, Bruno Cesar de Oliveira Araujo, Afonso Iago Lima Teixeira, Davi Franca Guedes da Silva, Ítalo José Silva Santos e Leonardo Paiva Silva, ampliou a ação de extensão para uma atividade ecológica. Hoje, as plantas seguem crescendo e dando frutos entre o Horto e o novo prédio do ICe, localizado no campus central da UFRN.

Coordenado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, vice-diretor do ICe, juntamente com docentes do Instituto Internacional de Física (IIF), Escola de Música (EMUFRN) e Departamento de Educação Física (DEF), o projeto de extensão Capoeira do Brasil tem, entre seus objetivos, a função de contribuir para o desenvolvimento da cultura corporal da capoeira no Rio Grande do Norte, enquanto manifestação artística e expressiva da cultura popular brasileira, fortalecendo movimentos como a Roda de Capoeira, Puxada de Rede, Samba de Roda e Maculelê.

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