Pesquisa desenvolvida no ICe-UFRN que antecipa diagnóstico de esquizofrenia a partir de sistema que utiliza grafo matemático vence Prêmio Abril & DASA de Inovação Médica
Pelo segundo ano consecutivo, a psiquiatra Natalia Mota recebe reconhecimento nacional por seu trabalho desenvolvido no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN), sob orientação do neurocientista Sidarta Ribeiro (ICe-UFRN) e do físico Mauro Copelli (UFPE). O “exame que dá voz às psicoses” levou o prêmio Abril & DASA de Inovação Médica, na categoria inovação em medicina diagnóstica, na noite desta quarta-feira, 5, durante evento em São Paulo.
O projeto demonstra em diversas publicações que é possível realizar e prever o diagnóstico de esquizofrenia de maneira objetiva, sem qualquer interpretação subjetiva, possibilitando prevenção de crises severas e danos cognitivos futuros ao paciente. “Em psiquiatria, área que carece de exames complementares, esse é um avanço que traz esperança a tantas pessoas com eternas dúvidas diagnósticas”, disse Natália.
Baseado em um conjunto de sintomas denominados “desordem da forma do pensamento”, a pesquisa representa a fala do paciente, por onde o psiquiatra percebe o sintoma, como uma estrutura de trajetória de palavras transformada grafo matemático.

Através desta representação, é possível medir a conectividade entre as palavras, o que mostra como é organizado este relato. Segundo Natalia, sujeitos que sofrem de esquizofrenia tendem a falar de uma maneira desorganizada, ou seja, sua trajetória de palavras assume um formato aberrante comparado a de outras pessoas. “Eles falam de maneira fragmentada, descarrilada, e todos esses sintomas têm essa noção de que a trajetória do pensamento, da fala, está modificada”, explicou.
O trabalho que vem sendo desenvolvido há dez anos, começou observando pacientes já diagnosticados com patologia crônica. Os sintomas cognitivos negativos e a grande dificuldade de socialização demonstraram nesses pacientes grafos mais fragmentados.
Com os avanços do estudo, os pesquisadores foram observando se essas características poderiam prever o diagnóstico em idades mais precoces e no início da doença, o que permitiria uma intervenção médica de melhor qualidade.
Para isso, foram coletados dados com pacientes já no primeiro episódio, considerando crianças e adolescentes que experimentavam os sintomas pela primeira vez. A partir daí, foi possível constatar que as medidas de conectividade prediziam, já no primeiro contato, o diagnóstico que os pacientes iriam receber em no mínimo seis meses de acompanhamento médico.
“Isso oferece ao psiquiatra não só uma solidez maior para fazer a predição do diagnóstico, como também ao paciente que tem mais certeza dele”, alerta Natalia Mota.
Sistema gratuito
Além de o estudo ter sido realizado no ambiente do SUS, o SpeechGraphs, sistema utilizado pelos pesquisadores para o diagnóstico rápido de esquizofrenia, está disponível gratuitamente para os profissionais que desejem utilizá-lo. No site do ICe-UFRN é possível baixar para vários sistemas operacionais, bem como acessar um tutorial que traz um passo a passo.
No próximo ano, Natalia Mota vai realizar um curso sobre a pesquisa e o sistema para um público interessado. As aulas serão gravadas e disponibilizadas gratuitamente para a comunidade em geral.
Prêmios

A pesquisa de Natalia Mota recebeu, em 2017, o Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação do SUS, na categoria trabalho científico publicado, por ter sido desenvolvido em dispositivos do Sistema Único de Saúde de Natal-RN.
Para Natalia, o prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica é um reconhecimento muito importante para o seu grupo, mas também para todos que fazem o esforço de trabalhar em ciência aplicada para transmitir conhecimentos para o dia a dia da população.
No momento da premiação, a pesquisadora agradeceu a seus orientadores e parceiros no estudo, Sidarta Ribeiro e Mauro Copelli, bem como a todo o esforço do time interdisciplinar envolvido, de colegas das neurociências, da física e todos os colaboradores internacionais que a ajudaram a medir com acurácia e traduzir a sintomatologia percebida na clínica em construtos matemáticos.
“A demora no diagnóstico de qualquer paciente representa meses de perda de qualidade de vida, medo e angústia, pensando no futuro, em como as coisas vão evoluir. Saber de uma maneira mais acurada do diagnóstico, evitar um estigma desnecessário não tem preço para o paciente e para a família. Do mesmo jeito, saber e poder evitar um mal maior, um déficit cognitivo com tratamento a tempo, é muito importante para o paciente e também para o profissional da saúde”, destacou Natalia Mota.
O Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica é uma iniciativa dos grupos Abril e Dasa, com a curadoria da Revista Saúde, que visa reconhecer projetos e profissionais médicos que fazem a diferença nas áreas científica, clínica e assistencial. A proposta visa descobrir ideias e realizações com potencial inovador capazes de mudar a vida e a saúde das pessoas.