Desordens neuronais ligadas a novo método diagnóstico para esquizofrenia

Novo estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN) consegue demonstrar ligação entre marcadores na fala e correlatos neurais de pacientes com psicose, além de reforçar dados anteriores e confirmar método diagnóstico de esquizofrenia.

A busca por biomarcadores na psiquiatria tem sido intensa nos últimos anos e esse recente trabalho traz uma luz de como se pode procurar a relação entre sintomas e marcadores neurais. O trabalho, publicado pelo Neuro-psychopharmacology & biological psychiatry, fornece uma nova evidência de que a disconectividade da fala pode emergir de déficits do neurodesenvolvimento e da disconectividade associada na psicose.

Com o título “A estrutura da fala liga os correlatos neurais e sócio-comportamentais dos transtornos psicóticos” o estudo desenvolvido pela psiquiatra Natália Mota com orientação dos professores Sidarta Ribeiro e Mauro Copelli, foi realizado nas cidades de Nottinghamshire e Leicestershire, no Reino Unido, com apoio de pesquisadores ingleses.

A nova amostragem contou com a participação de 56 pacientes na mesma fase da doença, sendo 34 com esquizofrenia e 22 com transtorno bipolar com características psicóticas. Os grupos foram recrutados por equipes de saúde mental baseadas na comunidade, incluindo equipes de Intervenção Precoce em Psicose.

Os pacientes foram entrevistados e avaliados durante repouso em ressonância magnética, gerando dados de atividade neural que permitiu investigar a base neural e a relevância funcional da conectividade estrutural de amostras de fala obtidas dos pacientes. A estrutura da fala foi avaliada por análise de grafos não-semânticos.

Através da utilização de grafos de trajetória de palavras, técnica desenvolvida pelo Instituto do Cérebro UFRN desde 2012, o grupo demonstrou que pacientes com diagnóstico de esquizofrenia relatam suas memórias com menor conectividade entre palavras, em comparação com indivíduos não psicóticos, ou pacientes com sintomas psicóticos diagnosticados com transtorno bipolar.

Uma vantagem dessa nova abordagem, segundo os pesquisadores, é ser naturalista, analisando o discurso livre do paciente, como se manifesta na entrevista clínica. “Além disso, é completamente independente da interpretação subjetiva dos sintomas e permite a comparação sistemática usando múltiplos grafos aleatórios feitos com as mesmas palavras usadas pelo paciente, melhorando assim a precisão da medição”, disse Mota.

Na amostragem, os pesquisadores quantificaram o “afrouxamento de associações” na fala dos pacientes usando grafos não-semânticos, estudaram as diferenças na conectividade entre esquizofrenia e transtorno bipolar e verificaram se a conectividade de fala estava correlacionada com duas medidas neurais: uma de função cerebral no repouso (grau de centralidade) e uma estrutural (girificação).

Também estudaram as correlações da conexão de fala com a avaliação psicométrica do transtorno do pensamento formal, a velocidade de processamento, a memória de trabalho e a função social e ocupacional em pacientes. Isto foi realizado dentro de cada grupo de diagnóstico, bem como trans-diagnosticamente. Dada a associação múltipla do transtorno do pensamento formal (DFT) com desfechos biológicos, comportamentais e funcionais na psicose.

O resultado mostrou que a estrutura da linguagem medida por grafos em sujeitos com psicose está correlacionada com correlatos neurais medidos por ressonância magnética, fenômeno esse que se liga aos sintomas e disfunções sociais apresentados pelos pacientes.

Um detalhe importante é ter replicado os achados que vêm sendo desenvolvidos aqui no Brasil desde 2012, em pacientes de outro país, onde o ambiente, o público, a língua e o tipo de relações são diferentes.

Veja arquivo completo:

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278584618302975?via%3Dihub