Ayahuasca pode ajudar no tratamento de depressão, diz estudo

A ayahuasca é uma bebida tradicionalmente usada para fins de cura e rituais espirituais por populações indígenas da bacia amazônica. De acordo com um novo estudo clínico publicado hoje na revista científica in Psychological Medicine, a ayahuasca é segura e alivia os sintomas de depressão em pacientes que não responderam aos tratamentos convencionais, dessa vez em comparação ao placebo. “Este é o primeiro estudo controlado com ayahuasca para a depressão, e os resultados são promissores e interessantes”, declarou Dráulio Araújo, professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, coordenador do estudo.

A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão, e cerca de um terço não responde aos antidepressivos comerciais disponíveis. Além disso, a maioria das pessoas só passam a sentir os benefícios desses medicamentos após pelo menos duas semanas de uso contínuo.

Estudos recentes, não controlados, sugeriram efeito antidepressivo de início rápido de uma única sessão de ayahuasca em 17 pacientes com depressão refratária ao tratamento. “Estamos muito animados com esses novos resultados. Os efeitos foram semelhantes aos que observamos anteriormente, em que os pacientes apresentaram melhora já nas primeiras horas após a ingestão da ayahuasca”, observou Jaime Hallak, professor de psiquiatria da Universidade de São Paulo e coautor do estudo. Embora promissores, esses estudos não controlaram o efeito placebo, que pode ser notavelmente alto em ensaios clínicos para depressão, atingindo 30-40% dos pacientes.

Neste novo estudo, um grupo de cientistas brasileiros realizou o primeiro ensaio clínico randomizado com ayahuasca, controlado por placebo, em 29 pacientes com depressão resistente ao tratamento. Metade dos pacientes do estudo foram tratados com ayahuasca, a outra metade com placebo. “Nossos pacientes experimentaram efeito placebo significativo, mas os efeitos da ayahuasca foram superiores e mais duradouros”, observou o Dr. João Paulo Maia, psiquiatra do Hospital Universitário (HUOL) e coautor do estudo. Melhoras significativas já foram observadas um dia após a sessão com ayahuasca. “Sete dias após a sessão, o efeito aumentou e 64% dos pacientes responderam à ayahuasca, enquanto 27% responderam ao placebo”, explica Fernanda-Fontes, primeira autora do estudo.

A ayahuasca começou a ser usada em ambientes religiosos de pequenos centros urbanos brasileiros em 1930, alcançando grandes cidades nos anos 80 e expandindo-se desde então para várias outras partes do mundo. “Há uma nova onda psicodélica a caminho e temos a chance de recuperar o tempo perdido. Essas são substâncias poderosas que devem ser tratadas com grande respeito e usadas em ambientes e com intenções apropriados”, concluiu Araújo.

O estudo foi financiado pelas Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, projetos #466760/2014 & #479466/2013), e pela fundação CAPES (projetos #1677/2012 & #1577/2013).

Rapid antidepressant effects of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression: a randomized placebo-controlled trial. Disponível aqui: https://doi.org/10.1017/S0033291718001356.

Assunto foi destaque na FOLHA DE SÃO PAULO:

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/06/ayahuasca-diminui-sintomas-de-depressao-em-pesquisa-brasileira.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha