Medida de fala desorganizada prevê diagnóstico de esquizofrenia e gravidade de sintomas em primeiro contato clínico

O discurso anormal em pacientes com sinais recentes de psicose pode ajudar no diagnóstico psiquiátrico da esquizofrenia. Publicada na Revista NPJ Schizophrenia, do grupo Nature, a descoberta foi feita por pesquisadores do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O estudo de autoria de Natália Mota (UFRN), Sidarta Ribeiro (UFRN) e Mauro Copelli (UFPE) observou que pessoas diagnosticadas com esquizofrenia exibiram já no primeiro contato com a equipe médica um discurso mais desorganizado, o que não aconteceu com os pacientes diagnosticados mais tarde com transtorno bipolar do humor. “Um discurso menos conectado também foi indicativo de sintomas negativos mais graves, tais como emoções embotadas e falta de motivação”, explica Natália Mota.

Com o estudo inciado em 2014, os pesquisadores entrevistaram 21 pacientes em seu primeiro contato clínico buscando ajuda para sintomas de psicose de início recente, além de outros 21 participantes saudáveis, como grupo controle da pesquisa. Acompanhados durante seis meses para estabelecer um diagnóstico mais formal, os cientistas utilizaram a análise de grafos de discurso – ferramenta computacional que caracteriza a trajetória de palavras usadas para relatar sonhos ou memórias recentes – como avaliação psiquiátrica complementar dos voluntários.

Foi então possível observar com precisão que, desde o primeiro contato clínico, os pacientes que após seis meses receberam o diagnóstico de esquizofrenia já falavam de maneira menos conectada e mais desorganizada, sendo essa conectividade frequentemente semelhante ao que se poderia encontrar ao acaso, diferente do que foi observado nos demais sujeitos. Além disso, quanto mais desorganizado era o discurso, mais graves eram os sintomas negativos.

Também foi observado que os relatos de sonhos, assim como relatos de uma imagem negativa recém-apresentada, foram mais úteis para o diagnóstico de esquizofrenia do que os relatos de memórias mais antigas.

Entre as limitações do estudo, os cientistas citaram o pequeno número de participantes e sugeriram replicar os achados em falantes nativos de outros idiomas para confirmar se as descobertas podem ser generalizadas.

Já como diferencial, o trabalho fez uso de estratégias computacionais para mensurar, de forma precisa e sem interpretações, sintomas psiquiátricos importantes, o que é realizado nas clínicas psiquiátricas há décadas, porém, de forma subjetiva. A análise de grafos é rápida e de baixo custo, o que possibilita seu uso como exame complementar a avaliação psiquiátrica.

“O método da pesquisa é uma tradução matemática para a descrição psicopatológica das desordens do pensamento comuns na esquizofrenia, mostrando poder discriminativo substancial, e representando a tradução bem-sucedida de ciência básica para a aplicação de tecnologia capaz de fomentar a avaliação clínica”, analisa a neurocientista.