Cientistas da UFRN descobrem genes associados ao câncer

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) participaram do estudo, publicado na revista Nature Communications, que mapeou quais genes são inibidores da formação e do desenvolvimento dos cânceres de ovário, do colorretal e da leucemia aguda mieloide. A descoberta está ligada aos supressores de instabilidade do genoma, responsáveis por manter o equilíbrio, ou seja, de diminuir a taxa de mutações nas células e o surgimento de doenças, entre elas os tumores.

Os professores do Instituto do Cérebro (ICe), Sandro José de Souza, do Instituto Metrópole Digital (IMD), Jorge Estefano Santana de Souza, e o aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Bioinformática, André Fonseca, juntamente com especialistas da Universidade da Califórnia (EUA), utilizaram técnicas da Genética, para definir quais genes são supressores da instabilidade no modelo de levedura (fungos utilizados na fermentação de pães e da cerveja), e da Bioinformática, que permitiu estudar esses genes em diferentes tipos de tumores humanos.

O docente Sandro José de Souza explica que os supressores ou inibidores são proteínas codificadas pelos genes capazes de corrigir mutações no genoma. Porém, quando não funcionam, tais mutações no DNA podem causar doenças, inclusive o câncer. Partindo desse princípio, observou-se como ocorria a supressão da mutação genômica das leveduras. Nessa etapa, foram identificados 182 genes de inibidores de alterações, desse total 98 não tinham sido descritos antes. Esse resultado disponibilizou a mais completa lista de genes de manutenção da estabilidade genômica em leveduras, até agora.

O grupo também identificou mais de 400 genes anteriormente desconhecidos que cooperam com o equilíbrio do DNA e só afetam o genoma quando combinado com outras mutações, o que destaca a complexidade da rede genética para manter a integridade das células normais.

Em seguida, a equipe partiu para a comparação entre os genes propiciadores de estabilidade das leveduras (“primos” distantes do homem) e dos seres humanos, por meio do Atlas do Genoma do Câncer – compilação de dados genômicos de milhares de pacientes com câncer. As informações foram cruzadas, completando a lista de informações com genes humanos que não são encontrados em leveduras, mas que participam das mesmas vias e complexos de proteína que os genes de levedura de supressão de variações.

Nessa fase, os cânceres de ovário, do colorretal e a leucemia mieloide aguda foram selecionados para o rastreio. Conforme o professor Jorge Estefano Santana de Souza, “a leucemia serviu como controle, pois sabe-se que nas mutações os supressores de instabilidade não têm um papel muito importante no desenvolvimento da doença. Já o contrário ocorre com os outros tipos de tumor estudados”, esclarece.

Então, descobriram que 93% dos cânceres de ovário e 66% do colorretal tinham defeitos genéticos que afetam um ou mais genes que preservam a estabilidade, enquanto a leucemia mieloide aguda não pareceu ter defeitos envolvendo esses tipos de genes.

Na opinião de Sandro José de Souza, o estudo veio contribuir com o “desenvolvimento de terapias cujos alvos seriam os supressores de instabilidade. Qualquer agente terapêutico que tenha como alvo o restabelecimento da função de um supressor teria um impacto na clínica”, vislumbra.

O próximo passo é estudar o mesmo grupo de genes em cerca de 15 outros tipos de câncer. Além dos pesquisadores da UFRN, Sandro José de Souza, Jorge Estefano Santana de Souza e André Fonseca, a descoberta contou com as participações de cientistas da Universidade da Califórnia, que são Christopher D. Putmam, Anjara Srivatsan, Rahul V. Nene, Sandra L. Martinez, Sarah P. Clotfelter, Sara N. Bell, Steve B. Somach e Richard D. Kolodner.