Pesquisas oriundas da lagosta esclarecem origem da esquizofrenia

Pesquisadores do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comprovam que a origem de transtornos psiquiátricos não está atrelada a alterações biológicas únicas e que o diagnóstico ainda necessita da análise de sintomas. O estudo foi realizado com modelos computacionais inspirados em trabalhos que simulam neurônios do intestino da lagosta.

A pesquisa de Rodrigo Pavão, Adriano Tort e Olavo Amaral, que foi publicada na revista Schizophrenia Bulletin, utilizou modelos computacionais desenvolvidos em laboratórios que simulam sintomas da esquizofrenia em redes de neurônios artificiais. Os cientistas realizaram simulações, gerando milhares de redes neuronais, por meio de variações dos componentes dos circuitos. Após isso, examinaram o funcionamento das combinações para avaliar se haviam sintomas semelhantes aos da esquizofrenia.

De acordo com Rodrigo Pavão, “o estudo feito por Eve Marder, demonstrando múltiplos modelos computacionais capazes de gerar o padrão de contração rítmica no intestino de lagosta, inspirou o nosso trabalho que demostra que múltiplos modelos computacionais podem gerar características esquizofrênicas”, explica.

O resultado da pesquisa foi que, além de observar as mesmas alterações relatadas em outros estudos, também foram geradas mais de uma centena de combinações diferentes de alterações. Com base nessas análises, nenhum dos componentes utilizados para construir o circuito neuronal foi capaz de predizer isoladamente a ocorrência dos sintomas relacionados à doença. Pelo contrário, eles parecem ser fruto da interação entre muitos fatores que atuam em conjunto.

O estudo reforça a complexidade dos transtornos psiquiátricos, mostrando que um conjunto de sintomas pode ser fruto de dezenas ou centenas de causas diferentes a nível de genes e moléculas. Também é possível que uma mesma alteração genética possa levar a sintomas distintos em pacientes diferentes, de acordo com fatores ambientais e culturais.

“Os diagnósticos atuais em Psiquiatria foram originalmente criados para agrupar pacientes com sintomas semelhantes. No entanto, nada garante que estas doenças, definidas a partir de sintomas, possuam causas biológicas únicas”, esclarece Olavo Amaral.

Para os estudiosos, os resultados são um “balde de água fria” na ideia de que a Psiquiatria será capaz de substituir o diagnóstico baseado em sintomas por métodos objetivos, como testes bioquímicos, análises genéticas ou exames de imagem. No entanto, eles também afirmam que outras maneiras de diagnóstico são possíveis.

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença caracterizada tanto pela presença de alucinações e delírios quanto pela depressão e declínio cognitivo ou apatia. Acredita-se que tenha base genética e ambiental e que esteja associada a mudanças químicas e estruturais do cérebro. “Não há convicção sobre o que causa a doença, que é definida como multifatorial, algo reforçado pelo nosso estudo”, enfatiza Pavão.