Principal medicação para pacientes com microcefalia está em falta desde 2017

TRIBUNA DO NORTE

Um dos principais medicamentos que deveria ser fornecido pelo governo do Estado do Rio Grande do Norte está em falta desde 2017, o Vigabatrina 500mg. Indicado para tratamento de pacientes com epilepsias e o mais utilizado para crianças com microcefalia, a substância é hoje comercializada no valor de até R$ 315 reais, o que se torna inviável para as famílias que recebem apenas o benefício de R$ 998.

“A Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), não consegue comprar [a medicação] devido aos processos licitatórios com resultado “Deserto”. A informação é do diretor da Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat), Ralfo Medeiros. Licitação deserta é quando não é encontrada nenhuma empresa interessada em participar da licitação para fornecer o medicamento.

“O que posso dizer, é que temos processo licitatório em andamento, mas não tenho ainda uma previsão de quando o medicamento irá chegar”, afirma o diretor. Atualmente, existe uma negociação com o governo de Pernambuco para empréstimo da medicação, porém não existe prazo, previsão ou esperança.

Pesquisa

“Em caso de um surto novo, vai ser bem diferente porque a rede financiada pelo Governo Federal está fragilizada, ou eles abrem um edital para pesquisa de zika e microcefalia ou poderá ser uma tragédia maior”. A afirmação é do pesquisador e professor do Instituto do Cérebro Eduardo Sequerra.

Uma importante parcela dos diagnósticos de microcefalia é ligada à infecção congênita pelo zika vírus, as microcefalias têm etiologia complexa e multifatorial. Para entender melhor sobre a ligação do vírus com a microcefalia, existe hoje um estudo feito pelo Instituto do Cérebro da UFRN. De acordo com Eduardo Sequerra, professor e pesquisador do Instituto, a primeira pessoa a perceber foi a Dra. Adriana Melo da Maternidade Pública de Campina Grande que havia detectado casos por ultra-sonografia. “Ela coletou líquido amniótico dessas grávidas e enviou para o professor Amilcar Tanuri da UFRJ. O Amilcar então confirmou Zika no líquido amniótico dessas mães”, disse o pesquisador. Experimentalmente, um grupo de pesquisa também da UFRJ, liderados pelo pesquisador Stevens Rehen e por Patricia Garcez, mostraram em poucos meses que zika infecta células tronco neurais humanas e restringe o seu crescimento.

A partir dessas descobertas, existe atualmente uma pesquisa em andamento feita pelo Instituto do Cérebro da UFRN que mostra que algumas características de alguns pacientes estão relacionadas com a possibilidade deles terem epilepsia ou não. E existe ainda a parte do estudo em animais, que está sendo focada na parte natural do corpo. “Estamos estudando como o vírus da Zika sai do sangue da mãe para o cérebro do bebê. Isso é importante porque se houver casos novos na frente, precisaríamos de uma estratégia para tentar evitar que o vírus chegue ao cérebro do bebê”, afirma Eduardo.

O Brasil foi o primeiro país a traçar a relação do vírus com a microcefalia. Na Ásia já existia casos de zika, mas nunca existiu a ligação. “Na verdade a resposta que a ciência brasileira deu em tempo hábil, aconteceu porque tinha uma estrutura bem montada, que estavam sendo financiadas para outras coisas e conseguimos redestribuir e colocar dinheiro nas pesquisas de zika, não foram editais específicos. A grande força propulsora da pesquisa veio dos próprios pesquisadores que se empenharam em estudar com profundidade”, diz.

De acordo com o pesquisador, em caso de um surto novo no Brasil em 2020, vai ser bem diferente. “Não teremos uma resposta tão rápida. Aqui no Instituto do Cérebro, estamos com um projeto de uma fonte internacional que durará três anos e estamos finalizando o primeiro ano”, diz.

Descoberto em meados da década de 1940 em Uganda, na África, o zika era tratado pela comunidade científica como um vírus de baixa periculosidade.

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