Sidarta Riberio, cientista, por Wired Festival CreativeX

ALEXANDRE MATIAS E BRUNO NATALWIRED

Arauto da ciência brasileira em tempos de crise em defesa da reconexão com nosso sonhos

A ciência brasileira está em risco de extinção”, diz o neurocientista brasiliense Sidarta Ribeiro, figura frequente em lives, debates e aparições online, sempre reforçando a situação crítica da ciência no país. “A ponte está desabando, temos que acelerar para não cair junto”, reforça ele.

Vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sidarta também critica o sistema extrativista destrutivo que extermina os biomas brasileiros, como a Floresta Amazônica, o Cerrado e o Pantanal. “Não é nióbio, ouro, prata, nem madeira de lei. O que tem de mais rico lá é bioinformática, é DNA e proteína”, afirma.

A conexão que as pessoas têm com os chamados “saberes ancestrais”, das culturas afrobrasileira e indígena, tem recebido atenção de muitos neste período. “Eles são a nossa bússola moral, que parecia ter se perdido”, resume o neurocientista, que também é biólogo.

“A gente tá no momento de uma síntese de três ativos da humanidade: o acúmulo dos saberes ancestrais e tradicionais, da ciência e de capital. Tudo isso está na mão de poucas pessoas pelo mundo”, explica, fazendo um vínculo com uma área cuja investigação ele tornou pública em 2019 ao lançar o best seller O Oráculo da Noite: O Sonho.

“O meu livro tem tudo a ver com o que está acontecendo, só faltou prever a pandemia”, ele ri, comentando a urgência de “um otimismo apocalíptico”, como ele mesmo rotula. “Precisamos acender os faróis para o futuro. Um deles é a ciência e o outro é o sonho”, começa a discorrer.

“O sonho permite que você integre muitas informações subliminares e transforme isso em imagens, metáforas e às vezes em previsões muito precisas, permitindo navegar o futuro. No meu livro digo que foi através da capacidade de sonhar e imaginar que saímos da idade das cavernas e entramos nesse mundo mais cultural”, explica. Ele reforça ainda descobertas científicas que vieram em sonhos, como o anel benzênico do alemão Friedrich August Kekulé, a tabela periódica do russo Dmitri Mendeleev e até a máquina de costura.

“Desde a antiguidade, em qualquer cultura que você olhe, os sonhos tinham um papel central, inclusive na gestão do Estado: Suméria, Babilônia, Acádia, Índia, China, Grécia, Roma, Egito. Na Idade Média continua: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino falam disso entre os cristãos, Maomé fala muito de sonho, Lutero tem sonhos fundamentais em sua história. Mas, no momento em que você começa a fazer nossa capacidade de transformar pessoas e animais em ferramentas num grande negócio, me parece que a ciência ganha muito mais importância e o sonho perde esse lugar”, conclui, ressaltando a necessidade de reconectar-se com esse estado onírico, outra causa que vem advogando durante este ano de tantos pesadelos.

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